quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Parece que é

como é que faz pra ser?
se é tão difícil ser?
por que não parecer?
ao invés de ser ?

mas eu é que não sei ser,
e não sei também saber,
que diferença tem do ser,
pro parecer.

a diferença essencial
invisível a olho nu.

e o que é que vale mais?
é o nu ou o vestido?
o que tem ou o desprovido?

democraticamente...
...ser é parecer...
ou ao menos,
parece ser...

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Preguiça

Jogado ao léu,
de lá não saio.

Deixo o mundo
seguir seu curso.

Naturalmente
sem interferência.

Deixai que o ócio
tome conta de mim,

me reja, me mova,
me domine.

Para que assim
,eu mesmo,
não precise nada,

reger, mover
nem sequer,
dominar.

Obsessão

Não é amor
é obsessão

Não é por vós
é por mim

Não é para ser bom
nem para ao menos parecer

Não é pela verdade
nem absoluta
nem relativa

Não é pela mentira
nem por mal

Minha obsessão doentia
de ser quem eu sou

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Reatividade X Atividade

Creio que é possível classificar os seres vivos em dois grupos. O dos ativos e o dos reativos. Os reativos surgiram primeiro na escala evolucionária. Isso ocorreu já que os seres ativos comportam-se de uma maneira mais complexa, e, portanto, necessitaram de mais tempo de elaboração da mãe-natureza até aparecerem por aí.
Dessa forma quero primeiramente caracterizar os seres reativos. Ser reativo é aquele que reage aos mesmos estímulos, não importando se internos ou externos, sempre da mesma forma. Um exemplo seria uma planta. Se há luz então seu caule cresce em direção a ela. A planta não possui a capacidade decisória de, por exemplo, não crescer na direção da luz. Ela simplesmente cresce, e crescerá sempre que as condições físicas a permitirem. Assim podemos dizer que a planta reagiu ao estímulo da luz. Como todo o comportamento das plantas é reativo, podemos considerar que estas são seres reativos obrigatórios.
Os seres humanos, diferentemente das plantas, são seres ativos, embora isso não queira dizer que tenham abandonado completamente sua reatividade. A atividade humana consiste na capacidade de entreter ações genuínas. Tais ações seriam aquelas que surgem de dentro para fora, sem a necessidade de um estímulo específico. Ou ainda aquelas ações de resposta a estímulos, diferentes daquelas ações de resposta padronizadas e ditadas por seus instintos. Por exemplo, o ato de ser criativo é uma ação genuína, já que não é sempre igual e determinado. Isso pode ser percebido quando um tema de redação é dado para crianças e cada uma cria uma história diferente. Embora seja pouco provável, é evidente que existe a possibilidade de surgirem duas histórias iguais. Entretanto, se existe a possibilidade da diferença já pode ser caracterizada uma ação genuína.
Disse que os humanos não abandonaram a sua reatividade por completo. Gostaria de ilustrar isso com um exemplo. O reflexo que o médico promove em seus pacientes ao estimular suas patelas realizando o levantamento da perna, é um exemplo de reatividade. Entretanto, se fosse possível controlar-se e evitar isso, esta atitude seria uma ação genuína. Assim havendo as duas possibilidades nos humanos gostaria de chamá-los de seres ativos facultativos.
Me parece que o que permite aos seres humanos a possibilidade de desempenhar ações genuínas seria a memória. Em uma planta não existe uma memória a qual ela possa recorrer para, dessa forma, analisar um repertório de respostas possíveis e escolher a mais adequada. Se igualmente, nós não tivéssemos memória não poderíamos escolher tomar um caminho diferente do definido por nossos instintos.
Gostaria de ressaltar que usei como exemplos organismos muito distintos, seres humanos e plantas. Não me sinto capaz de julgar a atividade dos seres entre um e outro. Creio que para verificar a capacidade dos seres de desempenhar uma ação genuína seja necessário realizar experimentos expondo os seres sempre aos mesmos estímulos e observando suas respostas. Quero também chamar atenção para o fato de me parecer que não há seres ativos obrigatórios. Todos possuem um grau maior ou menor de reatividade, e é isso que determina sua autonomia ante seus instintos.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

O Espelho

Com esse texto quero provar um ponto que creio estar certo embora seu enunciado seja muito controverso. Busco argumentar em favor da seguinte tese, quando não há observador não há imagem no espelho. Bom, antes de argumentar quero fazer uma ressalva. De modo algum busco com esse texto provar que a realidade como um todo depende de observadores para existir. Na minha concepção tal visão não é válida. O mundo não depende de nós para existir, nós pelo contrário, dependemos dele.
Para demonstrar essa questão devemos recorrer a um experimento mental. Imaginemos para esse fim que haja uma sala completamente vedada e opaca, da qual não sai luz interna e na qual não entra luz externa. Dentro dessa sala há uma lâmpada acesa presa por um fio no centro de seu teto. De modo que os únicos fótons presentes na sala são os emitidos por essa lâmpada. Uma das paredes da sala encontra-se toda coberta por um espelho. A distância do espelho a lâmpada permite que a luz emitida por esta chegue àquele e seja refletida de acordo com as leis que regem tal fenômeno. Além disso, há também, posicionada em frente à parede coberta pelo espelho, uma cadeira. A cadeira fará o papel do objeto que geraria a suposta imagem. Vejamos o que ocorre.
Tracemos o caminho da luz. A luz sai da lâmpada, parte dela vai de encontro à cadeira. Parte da luz é absorvida pela cadeira, outra parte, que consiste no feixe que representa a cor da cadeira, é refletida pela cadeira. Parte dessa luz sai da cadeira e se dirige ao espelho. Digamos que toda luz que sai da cadeira em direção ao espelho é refletida. Após ir de encontro ao espelho, devido ao fenômeno da reflexão, a luz sai do espelho em direção à cadeira, à lâmpada, às outras paredes, enfim, ao resto da sala.
Até este ponto parece que não há nada de controverso.
Porém nesta situação descrita já foi demonstrado meu ponto de vista. Ora, se a luz ao sair do espelho não encontra um sistema de lentes, seja de um ser vivo, seja de um aparelho que capte imagens, não ocorre a recepção dessa luz, e, portanto, não existe a formação da imagem do espelho. A imagem que vemos no espelho quando olhamos para ele é formada em nossas retinas. Se não há a intercepção do feixe luminoso que sai do espelho por um sistema captador de imagens, tal feixe segue sem formar imagem alguma. Indo de encontro à outra parede da sala, que por sua vez, não é um sistema captador de imagens.
Dessa forma, nessa situação não é formada imagem alguma. Embora não haja maneira empírica de comprovar tal proposição, creio ter me feito claro. Se não há um sistema que intercepte os raios de luz e partir disso forme uma imagem em seu interior, não há imagem. Assim, podemos concluir, que quando não há observador não há imagem no espelho.

domingo, 20 de junho de 2010

A Criatividade

A criatividade sempre foi um processo que me deixou muito curioso. Afinal de contas sair por aí com uma novidade, em um universo tão antigo é realmente algo memorável.
Não querendo diminuir a importância da criatividade, mas sim, querendo descobrir seu lado oculto é que faço minha proposta nesse texto.
Acredito que tudo de novo que ocorre, é descoberto, ou inventado, de uma maneira ou de outra já estava por aqui. É certo que não da mesma forma como vem a ser no momento da sua criação. O que quero dizer é que os elementos básicos que constituem cada criação já estavam presentes no exato momento antes de sua concepção.
As novidades são quebra-cabeças de antiguidades. Um exemplo banal que me ocorre é o do Pégaso. Já se sabia o que era um cavalo e o que era um pato. Recortam-se as asas do pato, e as colam no lombo do cavalo. Pronto, temos um novo ser. Não deixa de ser inédito por isso, mas veio de conceitos anteriores.
Mesmo na filosofia todos os conceitos emergem de conceitos pré-existentes, que por sua vez surgem da vida cotidiana e refletem uma realidade anterior a tais ideias.
Na matemática a construção de novos teoremas válidos sempre deriva de outros teoremas igualmente válidos. Assim como na física, embora nessa o substrato principal seja a própria materialidade.
Pode-se argumentar em contrário no campo da matemática citando o Teorema da Incompletude de Gödel ¹. Não é uma boa saída. Não quero dizer aqui que não existem as “verdades de Gödel”². Isso seria ir contra tal teorema, já comprovado. O que quero dizer é que as candidatas a verdades não-comprováveis percebidas no teorema de Gödel só podem ser vislumbradas como possíveis teoremas a partir de um padrão perceptível nos entes sobre os quais o possível teorema discorre. Dessa forma a formulação dessas conjecturas (os possíveis teoremas) são derivadas de padrões pré-existentes, embora isso não implique a demonstrabilidade de seus enunciados.
Para fechar gostaria de citar Lavoisier que nos deu a famosa frase “Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma". Creio que além do campo da química essa frase se estende para a criatividade já que tudo o que é criado ou é resultado da interpolação de seus antecedentes, ou, no plano conceitual, surge da observação de ideias pré-estabelecidas.

Notas: ¹ O Teorema da Incompletude de Gödel postula que os sistemas axiomáticos de base aritmética dos números inteiros (grande parte da matemática) ou são inconsistentes, o que quer dizer que levam a dedução de falsidades, ou são incompletos, isto é, haveria nesses sistemas proposições impossíveis de serem demonstradas dedutivamente. É importante ressaltar que esse é um “ou” exclusivo, o sistema não pode ser simultaneamente incompleto e inconsistente.
² “verdades de Gödel” é o nome que dei as verdades impossíveis de serem provadas sugeridas no Teorema da Incompletude. Em matemática uma suposta verdade ainda não comprovada chama-se conjectura, e uma já comprovada chama-se teorema.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Da diferença entre natural e artificial

Segundo meu ponto de vista a realidade é una e indivisível. Todos os entes pertencem a ela. Entretanto apesar de ser indivisível ela pode ser categorizada de diversas maneiras. Uma delas seria a divisão em dois conjuntos básicos, o Natural e o Artificial. Já expus essa setorização em um texto passado. Gostaria com esse novo texto colocar o fundamento dessa disposição a fim de esclarecer melhor as diferenças entre as entidades naturais e as artificiais. Acredito que haja um critério fundamental para a distinção entre tais dois grupos de entidades.
Esse critério seria o da composição. Explico. Como já foi colocado, a realidade é una e indivisível. Dessa maneira todos os seus entes são plenos de realidade. Tanto os naturais quanto os artificiais são, portanto, reais e plenos de realidade. Entretanto, eles são compostos de maneira diferente. Utilizo a expressão compostos já que tudo é feito de partes da realidade.
Antes de determinar essa categorização é necessário antes definir o que entendo por caráter. O caráter de um ente compreende suas potencialidades espontâneas, ou seja, as potencialidades a priori do objeto.
A composição dos entes naturais é normal. Por normal quero fazer entender aquilo que vem a se compor espontaneamente. As partes que compõe os objetos naturais agregam-se espontaneamente. Com isso quero dizer que o que as une é seu próprio caráter. Se a semente germina ao receber água isso ocorre simplesmente porque é do caráter da semente assimilar água espontaneamente. Ter uma composição normal é ser composto inercialmente, ou seja, sem um motriz que direciona a composição a todo o momento.
Ao contrário da composição normal dos entes naturais, há a composição anormal dos entes artificiais. Ela é anormal porque não é do caráter de suas partes agregarem-se. Por exemplo, uma lança do neolítico. Não é do caráter da pedra ser polida e unir-se por meio de um cipó a uma vara de madeira. Se isso não é de seu caráter como pôde ocorrer? Ocorre já que há a todo o momento um motriz direcionando a composição, determinando o encaixe de suas partes.
Pode-se argumentar neste ponto que uso comum de pedras para se fazer lanças torna a lâmina uma potencialidade da pedra. De fato é uma nova potencialidade. E justamente por ser nova, não é a priori, e sim a posteriori. Assim a lâmina continua artificial, e fora de seu caráter.
Dessa maneira pode-se fechar os conceitos de ente natural e artificial como sendo este, seguidor de seu caráter (composição normal) e aquele fugitivo de seu caráter (composição anormal). É o direcionamento do artífice que tira os entes naturais de sua inércia de caráter e os transforma, gerando uma composição anormal.
Espero ter conseguido demonstrar em que reside a diferença entre artificial e natural, e dessa maneira possibilitar a identificação de objetos como elementos desses dois conjuntos que fazem parte da nossa realidade.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

O Pó

o pó
de pouco a pouco
foi chegando
o pó
de pouco a pouco
foi parando
o pó
de pouco a pouco
foi pousando

o pó
de pouco a pouco
foi juntando
o pó
de pouco a pouco
foi virando
o pó de
pouco a pouco
foi formando

até que o pó
passou a poder

até que o pó
passou a povoar


até que o pó
passou a prover

até que o pó
passou a pensar

porém o pó passou
a por tudo a perder

passou a destruir

passou a derreter

então sem pestanejar
o pó se apodreceu

e quando podre
o pó se partiu

e quando partido
o pó se pulverizou

e quando pó
o pó se espalhou

e quando espalhado
o pó percorreu

e quando cansado
de pouco a pouco
foi chegando

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Tristeza do Bem

A tristeza é vista pelo senso comum como um sentimento ruim e nocivo a qualquer indivíduo. Tal conclusão faz sentido, afinal de contas é uma emoção que surge nos momentos de dor e sofrimento da vida. Entretanto, não se pode considerar a tristeza como um estado de espírito unicamente negativo. Ela tem uma razão de existir e, portanto, sob um certo ponto de vista pode ser considerada benéfica.
Primeiramente, pode-se perceber o valor da tristeza no que tange ao campo das escolhas pessoais. Todas as escolhas feitas por uma pessoa partem de sua própria valoração da realidade, e de como uma realidade a faz se sentir. Ao escolher uma profissão, e ao final de um dia de trabalho sentir-se triste é sinal de que se fez uma má escolha. Isso também vale para relacionamentos, e qualquer outro tipo de escolha. A tristeza funciona como um “termômetro” das decisões que se toma. Quando são negativas ela surge indicando que aquele não é o melhor caminho a se seguir. Sem ela ficaríamos desnorteados sem saber se algo nos prejudica.
Além disso, também deve-se dar destaque para a importância da tristeza no reconhecimento da felicidade. São estados emocionais interdependentes. È somente por meio da oposição entre um e outro que se pode identificá-los. A felicidade só passa a ser positiva a partir do momento em que se opõe à tristeza. Quando encontra-se em um estado constante, esse é banalizado e perde sua valoração. Um individuo só passa a valorizar a sua capacidade de andar se em algum momento torna-se paralítico. Não que andar não fosse positivo antes, já que era. Entretanto, isso só pôde ser percebido a partir do momento no qual sofreu o contraste e deixou de ser banal.
Dessa maneira pode-se concluir o quão importante e benéfica pode ser a tristeza. Sem ela nos submeteríamos à situações prejudiciais, sem notar, o que apenas as agravaria mais. Sem contar com o fato de que é a tristeza que dá dimensão à felicidade. Permitindo a não-banalização dos sentimentos e, por conseguinte gerando uma busca por sentimentos melhores. Ao contrário do que diz o senso comum a tristeza não é de todo má, e sim ajuda-nos a sermos mais felizes.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Bartolomeu

Algum dia
Bartolomeu,
Comeu
Damasco,
E morreu
Foi pro céu.
Grato, avistou,
Homens alados.
Idílicos anjos.

Jaz aqui,
Lá atrás fica seu corpo
Morto na terra.
Não o verás de novo.

Onde estou?
Paraíso?
Que lindo é aqui!

Realmente, é lindo.
Sou São Pedro.
Teu anfitrião.
Único, Deus te aguarda.
Venha vê-lo, Bartolomeu.

Xadrez. Vamos jogar xadrez?

Zeus o aguarda para uma partidinha!

terça-feira, 25 de maio de 2010

Crítica ao sobrenatural

Creio que sem muito esforço podemos categorizar a realidade em dois âmbitos.
O primeiro, infinitamente maior, seria o grupo Natural. Nesse setor encontram-se todos os entes presentes na realidade tais como são espontaneamente. Por espontaneamente quero colocar exatamente o que o termo sugere. Uma ação espontânea é aquela natural, inalterada, que vem a ser sem interferência. Nessa categoria, a Natural, portanto, localizam-se as entidades da natureza, apenas modificadas por ela própria, sem a intervenção humana. Acredito que a partir desse ensejo já pode ser notado o segundo conjunto. O segundo conjunto consiste nas entidades Artificiais. Isso quer dizer que nele está contido tudo aquilo que foi modificado por um artífice. Uso o termo artífice em vez do termo homem, por exemplo, já que não creio que os únicos seres do universo capazes de tirar um objeto de seu estado de espontaneidade sejam os humanos. Tal divisão por mais grossa que possa se mostrar parece capaz de separar eficientemente todos os entes do universo. Pode surgir então a dúvida sobre em qual conjunto estariam os seres sobrenaturais. Se no primeiro, no segundo ou em um suposto terceiro conjunto. Se tais seres são na verdade criações humanas e de fato não existem materialmente, creio que podem ser considerados Artificiais. Entretanto, se de fato existirem independentemente do homem, ou de qualquer outro artífice devem ser considerados naturais, e não sobrenaturais. Existindo fora das invenções artificiais estariam, portanto, em seu estado de espontaneidade. Dessa forma fariam parte da natureza e seriam, assim, naturais. Não parece lógico dizer que ou são criados (artificiais) ou já estavam aí (naturais)? Ser sobre a natureza, ou seja, ser além dela, não tem sentido. Mesmo os artificiais não se sobrepõem a natureza, seguindo suas leis e sendo criados tendo como substrato apenas o natural. Mesmo um objeto artificial que tem como base outro objeto artificial, se retornarmos na linha do tempo poderemos observar sua origem natural.
Dessa maneira creio deixar claro o quão incorreto é o termo sobrenatural, já que nada se sobrepõe a natureza ou existe independentemente dela.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Se eu fosse você

Se Camila tivesse corcova
Camila seria camelo

Se somente tivesse casca
somente seria semente

Se tapete tivesse cabelo
tapete seria topete

Se novelo tivesse autor
novelo seria novela

Se prato tivesse bico
prato seria pato

Se trigo tivesse listras
trigo seria tigre

Se Lênin fosse músico
Lênin seria Lennon

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Da diferença entre sexo e gênero

Semana passada estava eu assistindo ao programa de entrevistas da Marília Gabriela, como tenho por hábito assistir todos os domingos. Nesse dia foi ao ar a entrevista de um Neuro-psiquiatra, Paulo Mattos, que falou sobre TDAH (transtorno do déficit de atenção com hiperatividade), o antigo DDA (déficit de atenção).
Em certo momento da entrevista ele comentou que tal transtorno se manifesta diferentemente em cada gênero, sendo o sintoma da hiperatividade mais relevante em homens. Foi então que eu pensei que em se tratando de uma questão médica a palavra mais correta deveria ser sexo, e não gênero.
Ao pesquisar na Wikipédia pude perceber que minha intuição estava correta. Não é de todo errado usar gênero e sexo para falar da mesma coisa, entretanto há uma diferença basal em seus significados. De maneira nenhuma quero colocar o erro do entrevistado, a entrevista foi excelente. Principalmente pela didática do médico-professor que nos deu uma dimensão correta do que ele buscava descrever.
Sexo seria a categoria biológica que separa os indivíduos vivos em: masculino, feminino e hermafrodita. Isso é delimitado por seus órgãos sexuais, e os tipos de gametas que produzem. No caso humano não há hermafroditas verdadeiros.
Gênero seria uma categoria mais social, que se refere mais aos papéis sociais desempenhados por casa sexo. É evidente que se uma mulher exerce uma função consagrada por um homem e vice-versa não se muda o gênero gramatical ao tratar com ela ou ele. Entretanto é dessa forma que se caracteriza o gênero enquanto termo social.
É da minha opinião que os gêneros sociais tendem a cada vez mais se confundir com a queda dos preconceitos, e entrada da mulher no mercado de trabalho. De qualquer forma ainda hoje essa divisão é válida por abarcar boa parte da população.
Encerro esse texto colocando algumas questões que o tema me impôs. Qual o gênero de travestis? Qual o sexo de pessoas que passaram pela mudança do mesmo? Pode-se considerar que realmente mudou?
Bom por hora era isso, apenas um esclarecimento sobre a diferença entre dois termos próximos e algumas questões para se ponderar.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Símbolo

O símbolo é a presentificação do imaterial.

domingo, 9 de maio de 2010

Essência da dor

Antes de qualquer coisa gostaria de colocar duas definições. Primeiramente quero dizer que a essência de um objeto é aquilo que se é posto, o objeto também é posto, e se é retirado o objeto é igualmente retirado, e, além disso, a essência não pode ser externa ao objeto. Em segundo lugar vou copiar a definição do termo latino, e filosófico, qualia, da Wikipédia. Ela diz assim: Qualia [singular: quale, em latim e português]. Termo filosófico que define as qualidades subjetivas das experiências mentais. Por exemplo, a vermelhidão do vermelho, ou o doloroso da dor.
Agora posso explicar em que consiste a teoria dos qualia invertidos, vamos lá. Suponhamos que você veja um morango e tenha aprendido que a cor dele é vermelha, por isso o chama de morango vermelho. Eu aprendi da mesma forma e por isso também o chamo de morango vermelho. No entanto o meu quale, isso é a cor que eu experimento quando vejo o morango, é o seu quale que você experimenta quando vê um limão. Ou seja, nós temos qualia invertidos. O que eu vejo como vermelho você vê como verde, mas ambos aprendemos a chamá-lo de vermelho. É uma estranha possibilidade.
Lembrando que os qualia valem para experiências mentais em geral, eles incluem a dor. Então o que aconteceria se colocássemos a dor na possibilidade dos qualia invertidos? O que eu chamo de dor você poderia dizer que são cócegas, mas pela impossibilidade de transmitir a sensação, não se percebe a diferença. Logo surge a pergunta: Qual é a essência da dor?
Bom, pela definição de essência não podemos recorrer ao que a dor provoca como gemidos e choros para identificar sua essência, já que esses são externos a ela. Além do fato de que é possível fingir a dor com gemidos e choros sem sentir dor alguma. Logo esses não são sua essência. Poderíamos pensar então: Ah, já sei, a essência da dor é o seu quale! Mas então aparece uma possibilidade estranha, acompanhe. Se a essência da dor é o seu quale, e se por acaso for verdadeira a teoria dos qualia invertidos então a essência da dor seria exclusiva para cada indivíduo.
Dessa maneira a teoria dos qualia invertidos cai por terra. Porque se a essência da dor fosse diferente para cada um, aconteceria o seguinte: Pondo-se a essência da sua dor para mim eu sentiria cócegas, por exemplo, e se retirasse eu deixaria de sentir cócegas. A dor nem dá as caras. Então essa não seria a essência da dor. Pode-se argumentar que não seria a essência da minha dor. Mas então surgiria um impasse: a dor como a entendemos não teria essência. Não haveria uma unificação de conceitos para que todos pudéssemos chamar de dor a mesma coisa, e ela seria então múltipla. Apesar disso nos comunicamos a respeito dela e nos entendemos.
Bom, ou a dor é múltipla e não tem essência, ou a teoria dos qualia invertidos é furada. Decidam por si próprios, em todo caso eu prefiro a segunda opção.

domingo, 2 de maio de 2010

Quebrando o preconceito

Há um certo provérbio chinês que diz mais ou menos assim : “O burro não aprende com os próprios erros, o inteligente aprende com os próprios erros, e o sábio, aprende com os erros dos outros.” A mensagem que esse dito transmite me faz considerar o quão importante é lidar sem problema com pessoas de todos os tipos.
Ora, todos queremos um pouco de sabedoria em nossas vidas. E convenhamos, não somos oniscientes. Para que possamos ter acesso aos erros e acertos dos outros, e dessa forma consigamos aprender e melhorar nossas próprias atitudes, devemos nos relacionar com eles.
Todo indivíduo, não importa sua classe social, etnia, religião, sexo ou opção sexual, tem uma história única.
Cada um tem suas experiências e carrega consigo a lição que pôde tirar delas. Lidar com qualquer pessoa é sempre enriquecedor afinal sempre há uma situação nova a qual você não conhece e pela qual pode passar um dia.
Sem contar com o fato de que ouvindo diferentes pontos de vista, muitos dos quais você jamais conceberia, é possível ter uma visão holística do todo. O que facilita muito as coisas. Uma compreensão geral permite o melhor entendimento das partes, com as quais lidamos diariamente.
Fiz esse texto só para colocar mais um argumento que creio quebrar os preconceitos. Sendo preconceituoso só se tem mesmo a perder. Além de estar errado e poder ir preso, você deixa de aprender como todos tem a contribuir entre si, criando um bem geral.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Limite do Eu

Somos todos partes indissociáveis da realidade. Somos compostos dos mesmos elementos que os outros entes que existem, materialmente. Ainda assim, conseguimos de alguma maneira nos destacar do todo, da natureza. Conseguimos perceber a nossa existência singular e individual. Poderia se argumentar que o que nos faz perceber nossa individualidade são os sentidos. Acho pouco. Quando se participa de um processo extremamente catártico como um concerto de música ou um jogo de futebol, a multidão que se forma tem vida própria. Reage junta aos acontecimentos que observa. Por um momento cada integrante dela esquece-se de si e torna-se apenas uma parte da massa, indistinto dela. Nesse instante especial perde-se a noção do Eu. E apesar disso os sentidos não estão suspensos. Contrariamente, estão ativos e exercendo um papel importante nessa comunhão. O que faz com que se perceba a existência do Eu separado da realidade é a consciência. Defino para este fim, a consciência como sendo a percepção das percepções. A capacidade de perceber o que se sente. Na massa apenas há a percepção seguida imediatamente pela reação provocada por ela. Não há uma ponderação antes do agir. Enquanto que fora dessa comunhão o indivíduo tem noção de suas percepções e por isso pode ordenar suas atitudes. Logo ter a consciência do Eu é perceber o que se sente podendo dessa forma delimitar-se. O indivíduo termina a partir do ponto em que seus sentidos são suprimidos, ou seja, além de seu corpo. Assim percebe a sua fronteira. Se não há a consciência o indivíduo apenas percebe, deixando dessa forma de perceber suas percepções, e, portanto a si mesmo.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

A escultora do conhecimento

Duvidar não é meramente questionar. Enquanto questionar é apenas criar uma interrogativa,duvidar é indagar se uma teoria pré-estabelecida está certa ou errada. Isso significa dizer que a dúvida não é construtora e sim reformadora do conhecimento. Intrínseca à natureza humana, é ela quem vem promovendo o avanço do conhecimento do homem.
Quando há uma verdade estabelecida , isso costuma incitar nas pessoas a vontade de questioná-la. No momento em que isso ocorre dá-se um debate. É nele que acontece o confronto entre uma nova hipótese e o que postulava o conhecimento até então. O fruto dessa discussão costuma ser uma reformulação da antiga verdade.
Quando não há dúvida acerca de uma noção anteriormente construída, essa noção perpetua-se estanque, inalterada. Assim, o conhecimento não se desenvolve. Além disso, caso essa noção seja falha seus desdobramentos igualmente serão. Supondo que isso ocorresse na medicina, a ausência da dúvida poderia gerar mortes, já que determinada técnica não se renovaria. A ausência da dúvida compromete o conhecimento podendo até gerar consequências nocivas.
Logo, percebe-se a dialética , fruto da dúvida como expressão da melhor maneira de construir o conhecimento. Sem ela não é possível notar erros inerentes a esse processo, e imperceptíveis sem o questionamento. Para conhecer profundamente o que quer que seja é necessária a dúvida, a escultora do conhecimento.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Porque estudar filosofia

Meu objetivo com esse texto é como diz o título, expor alguns argumentos em defesa do estudo de filosofia. Em primeiro lugar creio que seja importante por um motivo que a filosofia compartilha com qualquer área do conhecimento. Aprender filosofia fortalece a bagagem cultural do estudante. É uma parte enorme da história e da construção dos conceitos da sociedade que não pode ser deixada de lado. Além disso, é preciso lembrar que o surgimento da filosofia remete a algo extremamente essencial. A dúvida. O questionamento da realidade então estabelecida. Se não houvesse questionamento estaríamos presos ao paleolítico. É a dúvida, a proposição de hipóteses e novas teorias que nutre a evolução do conhecimento e da tecnologia imprescindíveis à qualidade de vida humana. Devemos instigar os alunos para que perguntem, questionem, discordem, debatam. Só assim poderemos formar indivíduos críticos, essenciais na construção e manutenção de um país mais justo.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Mal Acostumados

Nos acostumamos a poluição,
e ao aquecimento global

Nos acostumamos ao crime,
ao assalto

Nos acostumamos a corrupção,
e à diferença social

Nos acostumamos aos muitos deveres,
e aos poucos direitos

Nos acostumamos à exploração,
e à falta de hospital

Nos acostumamos à esmola,
e à falta de escola

Nos acostumamos ao desmatamento,
e ao preconceito

Nos acostumamos à miséria,
e à falta de respeito

Nos acostumamos aos animais em extinção,
nos acostumamos ao circo sem pão

Nos acostumamos com tudo,
tudo que há de errado no mundo.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Universo

Universo:
onde está tudo.
Você pensou
algo inovador,
tenha certeza,
está no universo,
o seu pensamento
e também está nele
você.
Sua família,
seu cachorro,
o que sobrou da mata atlântica,
nebulosas, estrelas, galáxias.
Todas as coisas das enciclopédias,
os filmes da Disney,
e da guerra nas estrelas.
Mas o que me intriga é pensar:
o que contem o recipiente disto tudo?
Afinal tudo está no universo, mas...
...e ele onde está?

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Vingança moral

Todos estão convocados,
para lutar nesta guerra.
Todos nós fomos roubados,
saquearam nossa terra.

Atacaremos nosso inimigo.
Peguem arco e flecha, espadas
destruiremos seu abrigo
Deles não restará mais nada!

Mal sabiam os ladrões
o que por eles esperava.
Seriam atacados por leões,
uma força que não se imaginava.

Na noite planejada
foram ao acampamento.
Para lidar da forma esperada
contra seu maior tormento.

Matem, esses malditos,
enquanto ainda dormem!
Morrerão como cabritos
na faca de um homem.

Não houve resistência,
foi um massacre geral.
Mataram com eficiência,
não restou nenhum mortal.

Os saques recuperados,
tudo volta ao natural.
Os guerreiros saciados,
de sua vingança moral.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Não há fim, há mudança

Os seres humanos sempre tiveram a necessidade de medir todos os objetos da natureza. Tanto na forma quanto na duração. E dessa necessidade que surgiu o conceito de fim. O término é uma ideia que aparece para facilitar as categorizações humanas portanto é artificial.
Se observarmos com atenção o universo podemos concluir sem muito esforço que todos os seus entes são mutáveis. Como já postulado por Heráclito tudo flui,a única constante é a mudança. Quando um animal morre seu corpo decompõe-se e torna-se matéria orgânica que alimenta plantas que alimentarão outros animais. Não há fim há continuidade.
Em corroboração a isso temos o que disse Lavoisier "nada se cria tudo se transforma". Enquanto percebemos que no plano natural não há perda e sim apenas mudança, o mesmo também pode ser constatado no plano conceitual. O conhecimento evolui modifica-se. Progressões numéricas, frutos da pura abstração, são infinitas. Sempre é possível adicionar um novo número,reformulando seu antecessor e produzindo o novo, o diferente.
Dessa forma pode-se tomar todo fim como outro começo, visto que os finais são apenas limites antrópicos para definir e destacar objetos específicos que na verdade são integrantes indissociáveis do todo. Quando algo "termina" transmuta-se metamorfoseia-se, trazendo consigo uma nova fase do ente que o gerou. O futuro é advindo do passado e intimamente relacionado com ele. O fim é o começo diverso, é a expressão da mudança efetuada.