sexta-feira, 25 de junho de 2010

O Espelho

Com esse texto quero provar um ponto que creio estar certo embora seu enunciado seja muito controverso. Busco argumentar em favor da seguinte tese, quando não há observador não há imagem no espelho. Bom, antes de argumentar quero fazer uma ressalva. De modo algum busco com esse texto provar que a realidade como um todo depende de observadores para existir. Na minha concepção tal visão não é válida. O mundo não depende de nós para existir, nós pelo contrário, dependemos dele.
Para demonstrar essa questão devemos recorrer a um experimento mental. Imaginemos para esse fim que haja uma sala completamente vedada e opaca, da qual não sai luz interna e na qual não entra luz externa. Dentro dessa sala há uma lâmpada acesa presa por um fio no centro de seu teto. De modo que os únicos fótons presentes na sala são os emitidos por essa lâmpada. Uma das paredes da sala encontra-se toda coberta por um espelho. A distância do espelho a lâmpada permite que a luz emitida por esta chegue àquele e seja refletida de acordo com as leis que regem tal fenômeno. Além disso, há também, posicionada em frente à parede coberta pelo espelho, uma cadeira. A cadeira fará o papel do objeto que geraria a suposta imagem. Vejamos o que ocorre.
Tracemos o caminho da luz. A luz sai da lâmpada, parte dela vai de encontro à cadeira. Parte da luz é absorvida pela cadeira, outra parte, que consiste no feixe que representa a cor da cadeira, é refletida pela cadeira. Parte dessa luz sai da cadeira e se dirige ao espelho. Digamos que toda luz que sai da cadeira em direção ao espelho é refletida. Após ir de encontro ao espelho, devido ao fenômeno da reflexão, a luz sai do espelho em direção à cadeira, à lâmpada, às outras paredes, enfim, ao resto da sala.
Até este ponto parece que não há nada de controverso.
Porém nesta situação descrita já foi demonstrado meu ponto de vista. Ora, se a luz ao sair do espelho não encontra um sistema de lentes, seja de um ser vivo, seja de um aparelho que capte imagens, não ocorre a recepção dessa luz, e, portanto, não existe a formação da imagem do espelho. A imagem que vemos no espelho quando olhamos para ele é formada em nossas retinas. Se não há a intercepção do feixe luminoso que sai do espelho por um sistema captador de imagens, tal feixe segue sem formar imagem alguma. Indo de encontro à outra parede da sala, que por sua vez, não é um sistema captador de imagens.
Dessa forma, nessa situação não é formada imagem alguma. Embora não haja maneira empírica de comprovar tal proposição, creio ter me feito claro. Se não há um sistema que intercepte os raios de luz e partir disso forme uma imagem em seu interior, não há imagem. Assim, podemos concluir, que quando não há observador não há imagem no espelho.

domingo, 20 de junho de 2010

A Criatividade

A criatividade sempre foi um processo que me deixou muito curioso. Afinal de contas sair por aí com uma novidade, em um universo tão antigo é realmente algo memorável.
Não querendo diminuir a importância da criatividade, mas sim, querendo descobrir seu lado oculto é que faço minha proposta nesse texto.
Acredito que tudo de novo que ocorre, é descoberto, ou inventado, de uma maneira ou de outra já estava por aqui. É certo que não da mesma forma como vem a ser no momento da sua criação. O que quero dizer é que os elementos básicos que constituem cada criação já estavam presentes no exato momento antes de sua concepção.
As novidades são quebra-cabeças de antiguidades. Um exemplo banal que me ocorre é o do Pégaso. Já se sabia o que era um cavalo e o que era um pato. Recortam-se as asas do pato, e as colam no lombo do cavalo. Pronto, temos um novo ser. Não deixa de ser inédito por isso, mas veio de conceitos anteriores.
Mesmo na filosofia todos os conceitos emergem de conceitos pré-existentes, que por sua vez surgem da vida cotidiana e refletem uma realidade anterior a tais ideias.
Na matemática a construção de novos teoremas válidos sempre deriva de outros teoremas igualmente válidos. Assim como na física, embora nessa o substrato principal seja a própria materialidade.
Pode-se argumentar em contrário no campo da matemática citando o Teorema da Incompletude de Gödel ¹. Não é uma boa saída. Não quero dizer aqui que não existem as “verdades de Gödel”². Isso seria ir contra tal teorema, já comprovado. O que quero dizer é que as candidatas a verdades não-comprováveis percebidas no teorema de Gödel só podem ser vislumbradas como possíveis teoremas a partir de um padrão perceptível nos entes sobre os quais o possível teorema discorre. Dessa forma a formulação dessas conjecturas (os possíveis teoremas) são derivadas de padrões pré-existentes, embora isso não implique a demonstrabilidade de seus enunciados.
Para fechar gostaria de citar Lavoisier que nos deu a famosa frase “Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma". Creio que além do campo da química essa frase se estende para a criatividade já que tudo o que é criado ou é resultado da interpolação de seus antecedentes, ou, no plano conceitual, surge da observação de ideias pré-estabelecidas.

Notas: ¹ O Teorema da Incompletude de Gödel postula que os sistemas axiomáticos de base aritmética dos números inteiros (grande parte da matemática) ou são inconsistentes, o que quer dizer que levam a dedução de falsidades, ou são incompletos, isto é, haveria nesses sistemas proposições impossíveis de serem demonstradas dedutivamente. É importante ressaltar que esse é um “ou” exclusivo, o sistema não pode ser simultaneamente incompleto e inconsistente.
² “verdades de Gödel” é o nome que dei as verdades impossíveis de serem provadas sugeridas no Teorema da Incompletude. Em matemática uma suposta verdade ainda não comprovada chama-se conjectura, e uma já comprovada chama-se teorema.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Da diferença entre natural e artificial

Segundo meu ponto de vista a realidade é una e indivisível. Todos os entes pertencem a ela. Entretanto apesar de ser indivisível ela pode ser categorizada de diversas maneiras. Uma delas seria a divisão em dois conjuntos básicos, o Natural e o Artificial. Já expus essa setorização em um texto passado. Gostaria com esse novo texto colocar o fundamento dessa disposição a fim de esclarecer melhor as diferenças entre as entidades naturais e as artificiais. Acredito que haja um critério fundamental para a distinção entre tais dois grupos de entidades.
Esse critério seria o da composição. Explico. Como já foi colocado, a realidade é una e indivisível. Dessa maneira todos os seus entes são plenos de realidade. Tanto os naturais quanto os artificiais são, portanto, reais e plenos de realidade. Entretanto, eles são compostos de maneira diferente. Utilizo a expressão compostos já que tudo é feito de partes da realidade.
Antes de determinar essa categorização é necessário antes definir o que entendo por caráter. O caráter de um ente compreende suas potencialidades espontâneas, ou seja, as potencialidades a priori do objeto.
A composição dos entes naturais é normal. Por normal quero fazer entender aquilo que vem a se compor espontaneamente. As partes que compõe os objetos naturais agregam-se espontaneamente. Com isso quero dizer que o que as une é seu próprio caráter. Se a semente germina ao receber água isso ocorre simplesmente porque é do caráter da semente assimilar água espontaneamente. Ter uma composição normal é ser composto inercialmente, ou seja, sem um motriz que direciona a composição a todo o momento.
Ao contrário da composição normal dos entes naturais, há a composição anormal dos entes artificiais. Ela é anormal porque não é do caráter de suas partes agregarem-se. Por exemplo, uma lança do neolítico. Não é do caráter da pedra ser polida e unir-se por meio de um cipó a uma vara de madeira. Se isso não é de seu caráter como pôde ocorrer? Ocorre já que há a todo o momento um motriz direcionando a composição, determinando o encaixe de suas partes.
Pode-se argumentar neste ponto que uso comum de pedras para se fazer lanças torna a lâmina uma potencialidade da pedra. De fato é uma nova potencialidade. E justamente por ser nova, não é a priori, e sim a posteriori. Assim a lâmina continua artificial, e fora de seu caráter.
Dessa maneira pode-se fechar os conceitos de ente natural e artificial como sendo este, seguidor de seu caráter (composição normal) e aquele fugitivo de seu caráter (composição anormal). É o direcionamento do artífice que tira os entes naturais de sua inércia de caráter e os transforma, gerando uma composição anormal.
Espero ter conseguido demonstrar em que reside a diferença entre artificial e natural, e dessa maneira possibilitar a identificação de objetos como elementos desses dois conjuntos que fazem parte da nossa realidade.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

O Pó

o pó
de pouco a pouco
foi chegando
o pó
de pouco a pouco
foi parando
o pó
de pouco a pouco
foi pousando

o pó
de pouco a pouco
foi juntando
o pó
de pouco a pouco
foi virando
o pó de
pouco a pouco
foi formando

até que o pó
passou a poder

até que o pó
passou a povoar


até que o pó
passou a prover

até que o pó
passou a pensar

porém o pó passou
a por tudo a perder

passou a destruir

passou a derreter

então sem pestanejar
o pó se apodreceu

e quando podre
o pó se partiu

e quando partido
o pó se pulverizou

e quando pó
o pó se espalhou

e quando espalhado
o pó percorreu

e quando cansado
de pouco a pouco
foi chegando

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Tristeza do Bem

A tristeza é vista pelo senso comum como um sentimento ruim e nocivo a qualquer indivíduo. Tal conclusão faz sentido, afinal de contas é uma emoção que surge nos momentos de dor e sofrimento da vida. Entretanto, não se pode considerar a tristeza como um estado de espírito unicamente negativo. Ela tem uma razão de existir e, portanto, sob um certo ponto de vista pode ser considerada benéfica.
Primeiramente, pode-se perceber o valor da tristeza no que tange ao campo das escolhas pessoais. Todas as escolhas feitas por uma pessoa partem de sua própria valoração da realidade, e de como uma realidade a faz se sentir. Ao escolher uma profissão, e ao final de um dia de trabalho sentir-se triste é sinal de que se fez uma má escolha. Isso também vale para relacionamentos, e qualquer outro tipo de escolha. A tristeza funciona como um “termômetro” das decisões que se toma. Quando são negativas ela surge indicando que aquele não é o melhor caminho a se seguir. Sem ela ficaríamos desnorteados sem saber se algo nos prejudica.
Além disso, também deve-se dar destaque para a importância da tristeza no reconhecimento da felicidade. São estados emocionais interdependentes. È somente por meio da oposição entre um e outro que se pode identificá-los. A felicidade só passa a ser positiva a partir do momento em que se opõe à tristeza. Quando encontra-se em um estado constante, esse é banalizado e perde sua valoração. Um individuo só passa a valorizar a sua capacidade de andar se em algum momento torna-se paralítico. Não que andar não fosse positivo antes, já que era. Entretanto, isso só pôde ser percebido a partir do momento no qual sofreu o contraste e deixou de ser banal.
Dessa maneira pode-se concluir o quão importante e benéfica pode ser a tristeza. Sem ela nos submeteríamos à situações prejudiciais, sem notar, o que apenas as agravaria mais. Sem contar com o fato de que é a tristeza que dá dimensão à felicidade. Permitindo a não-banalização dos sentimentos e, por conseguinte gerando uma busca por sentimentos melhores. Ao contrário do que diz o senso comum a tristeza não é de todo má, e sim ajuda-nos a sermos mais felizes.