domingo, 20 de junho de 2010

A Criatividade

A criatividade sempre foi um processo que me deixou muito curioso. Afinal de contas sair por aí com uma novidade, em um universo tão antigo é realmente algo memorável.
Não querendo diminuir a importância da criatividade, mas sim, querendo descobrir seu lado oculto é que faço minha proposta nesse texto.
Acredito que tudo de novo que ocorre, é descoberto, ou inventado, de uma maneira ou de outra já estava por aqui. É certo que não da mesma forma como vem a ser no momento da sua criação. O que quero dizer é que os elementos básicos que constituem cada criação já estavam presentes no exato momento antes de sua concepção.
As novidades são quebra-cabeças de antiguidades. Um exemplo banal que me ocorre é o do Pégaso. Já se sabia o que era um cavalo e o que era um pato. Recortam-se as asas do pato, e as colam no lombo do cavalo. Pronto, temos um novo ser. Não deixa de ser inédito por isso, mas veio de conceitos anteriores.
Mesmo na filosofia todos os conceitos emergem de conceitos pré-existentes, que por sua vez surgem da vida cotidiana e refletem uma realidade anterior a tais ideias.
Na matemática a construção de novos teoremas válidos sempre deriva de outros teoremas igualmente válidos. Assim como na física, embora nessa o substrato principal seja a própria materialidade.
Pode-se argumentar em contrário no campo da matemática citando o Teorema da Incompletude de Gödel ¹. Não é uma boa saída. Não quero dizer aqui que não existem as “verdades de Gödel”². Isso seria ir contra tal teorema, já comprovado. O que quero dizer é que as candidatas a verdades não-comprováveis percebidas no teorema de Gödel só podem ser vislumbradas como possíveis teoremas a partir de um padrão perceptível nos entes sobre os quais o possível teorema discorre. Dessa forma a formulação dessas conjecturas (os possíveis teoremas) são derivadas de padrões pré-existentes, embora isso não implique a demonstrabilidade de seus enunciados.
Para fechar gostaria de citar Lavoisier que nos deu a famosa frase “Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma". Creio que além do campo da química essa frase se estende para a criatividade já que tudo o que é criado ou é resultado da interpolação de seus antecedentes, ou, no plano conceitual, surge da observação de ideias pré-estabelecidas.

Notas: ¹ O Teorema da Incompletude de Gödel postula que os sistemas axiomáticos de base aritmética dos números inteiros (grande parte da matemática) ou são inconsistentes, o que quer dizer que levam a dedução de falsidades, ou são incompletos, isto é, haveria nesses sistemas proposições impossíveis de serem demonstradas dedutivamente. É importante ressaltar que esse é um “ou” exclusivo, o sistema não pode ser simultaneamente incompleto e inconsistente.
² “verdades de Gödel” é o nome que dei as verdades impossíveis de serem provadas sugeridas no Teorema da Incompletude. Em matemática uma suposta verdade ainda não comprovada chama-se conjectura, e uma já comprovada chama-se teorema.

4 comentários:

  1. esse texto pode estar relacionado com o anterior né ?

    ResponderExcluir
  2. verdade, tudo já foi inventado.

    ResponderExcluir
  3. Não disse q tudo já foi inventado, o que quero dizer é que tudo o que é inventado é feito de coisas anteriores a si mesmo. Só porque as partes de algo já estavam aí não quer dizer q este algo também já estava.

    ResponderExcluir
  4. sim, mas isso mostra que nada é absolutamente original, vindo de algo que não tem a ver com o que veio antes.

    ResponderExcluir