segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Ímpeto, Agonia, e Temperança

Havia um homem que vivia com sua mulher e seu filho numa cabana. Vivia nu. Lá existia tudo do que precisava. Alimento em abundância, sua esteira onde dormia, e um teto que os protegia da chuva.
Certa noite em meio a uma tempestade, ele acorda aflito. Necessitando sair da cabana. Sua mulher o chama. Seu filho chora pedindo pelo pai. Entretanto como fosse surdo o homem segue, indiferente. Sai da cabana e já não se ouvem os prantos. De súbito percebe a tempestade e busca abrigo sob uma rocha. Esta o protege até o fim do dilúvio. Com o fim dessa ventura o homem pensa consigo: “Que sorte, encontrei uma rocha na hora exata em que precisei!”.
Sem saber muito bem para onde ia o homem segue seu rumo. De alguma forma ele sabe por qual direção seguir e o faz. Sem hesitar. Até que em dado momento depara-se com um enorme dragão vermelho. Esse cospe fogo pelas ventas. O homem pensa que aquele será seu fim. Quando olha para seu corpo descobre não estar mais nu. Vê-se vestido como um cavaleiro. Com uma armadura no peito. Na mão esquerda um escudo, e na direita uma espada. Segue, mais uma vez seu ímpeto. Sem titubear faz do dragão seu avesso e de suas tripas alimento. Depois de alimentado sabe que deve seguir seu destino. É estritamente o que faz.
Prossegue seu caminho como se marchasse. Novamente se questiona para onde vai. Pela força da vontade que sente, segue seu caminho ignorante sobre seu destino.
Chega então a um ambiente estranho, metálico, um castelo de paredes cromadas e de pequenas janelas. No ato de tocar neste, o castelo levanta-se como um gigante de metal prestes a esmagá-lo com a força de suas pisadas. Sente-se mais uma vez agoniado e indefeso, mas quando olha para si percebe que em uma das mãos onde antes havia espada, agora há uma corda com um peso em cada ponta. Ele a lança ao redor das pernas do gigante metálico que sucumbe, vindo ao chão imóvel. Mais uma vez sente-se aliviado e surpreso com a precisão das armas que surgem em suas mãos.
Seu anseio por prosseguir ainda existe. O homem segue com determinação até seu destino desconhecido. Quando se dá conta, está em um abismo. Olha atrás de si e tudo o que vê é vácuo, escuridão, à sua frente vê o mesmo, trevas. E pelo pavor cai e cai e cai, como num poço sem fundo, onde grita e não há nada, nem ninguém para ouvi-lo. Sua voz é um grito mudo. Mesmo a plenos pulmões. Não há rocha, não há armadura, não há espada que o salve. Novamente nu ele cai. Assustado e certo de que esse era realmente o fim de toda a sua existência. Não há o que possa salva-lo. É quando num tremendo susto ele acorda arfando. Ofegante e suado, sobre sua velha esteira. Levanta-se, observa o filho dormindo. Fita-o lembrando de sua própria infância. De maneira delicada para não acorda-lo, lhe dá um beijo. Com sua mulher ocorre algo similar, a mira como na primeira vez em que o fez. Então já soube que ficariam juntos por toda a vida. Também a beija. Logo se cobre e volta a dormir com a maior serenidade que já havia sentido.

6 comentários:

  1. Não é à toa que tem "filosófico" no meio do nome do blog... não podem reclamar que foi por falta de aviso! O homem vê, em dado momento de sua vida, que para todas as perguntas que ele tem dentro dele também há respostas, e no mesmo lugar.

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  2. Pois é neah, eu não sei escrever coisas bonitas em comentários que nem esse aí em cima da Yasmin, mas resolvi comentar pra te dizer que achei se jabá e resolvi ler =) Amanhã leio o resto =) Kissu pedroo o/ ~Cyell

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  3. Que bom! Agora estou certo de que o seu manuscrito foi devidamente digitado e que já pode ser impresso para que façamos a 'decupagem' na sexta-feira. Caso a vontade de levar a cabo a tarefa de transportar essa narrativa da prosa aos quadrinhos tenha arrefecido, conto com a sua teimosia.
    Muitas vezes onde falta vontade e abunda teimosia, esta, direcionada pela intenção e pelo pensamento concentrado, compensa a contento a falta.

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  4. Antes de mais nada gostaria de dizer que de fato você tem o Dom da escrita.
    Este conto além de bem redigido é bastante revelador. Fala da vida e dos percalços que ela nos apresenta e principalmente mostra que temos
    dentro de nós as armas, necessárias para nossa defesa.
    É issso aí, você esta no caminho certo e não te falta conteúdo e nem tão pouco consciência.
    Acredito em você e na importância que terá na
    construção de um Brasil melhor,para todos nós.
    Muito orgulho!
    Beijo grande
    Patricia

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  5. confesso que só entendi quando li o cometários das outras pessoas =D

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  6. Como disse a Yasmin: "Não é à toa que tem `filosófico`no meio do nome do blog...".

    Esse conto pode ser interpretado como a saga da espécie humana, que caminhando nesses milhares de anos, desde a primeira gargalhada até esse seu conto, por exemplo, percorre uma trilha que mesmo compreendendo o passado, sempre o acaso surpreende.

    Conhecendo a história dá para imaginar o futuro? Os chineses com 6.000 anos de relatos, os egípcios e a Mesopotâmia com um pouco menos, os maias. Quantas culturas mais virão?

    Do homem pelado até o armado....

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